Pequena pintura mural

Na linha recta de alcatrão que ladeia o Tejo entre Cacilhas e o Jardim do Gingal, avistando em cima a velha Almada, ainda hoje irei rever os nossos passos nas paredes que o rio inunda em viagens de espuma e de sargaço.
Quem teria um dia imaginado uma pista de lançamento de bombas insufladas em genocídios vermelhos em tão bela proa nos itinerários de amor?


(para a Margarida que nem sequer faz anos)

O ROMPER DA MANHÃ NA NOITE MÍSTICA

O ROMPER DA MANHÃ
NA NOITE MÍSTICA


III


Vós que torpes e tredos me negais
a meus cantos por vós eclipsados,
Vós que meus altos ramos rebaixais
Gabando meus mais fúteis desenfados,

Vós que atentos e doces me cercais
De lodo e lábia por todos os lados,
Vós que sois em mundanos tribunais
Juízes dos meus sonhos condenados,

Vós que se me pegais quais sanguessugas
Ao fado e à fama que me fazem rugas
E de horas turvas me fazeis rainha,

Levai coisas ambíguas e fugazes.
Só não roubais, ó turba de vorazes,
A lira e a coroa da hora que é a minha.


(Natália Correia, Sonetos Românticos, 1990)

Interrupção Voluntária da Estupidez

Passível de inúmeras discussões inflamadas, só pergunto: será desta que a Lei sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez vai ser alterada para retirarmos definitivamente uma das nódoas negras da sociedade portuguesa que mancha a dignidade e as opções de escolha livre das mulheres portuguesas?

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Para trás ficaram os campos de algodão

(fotografia de Isabel Mendes Ferreira)

Leituras

Passei o dia a ler as cotações do mercado de N. Iorque, contratos de promessa de compra e venda, o cardápio do restaurante ao almoço, alguns artigos de jornais, a lista de compras a fazer, nenhum blogue, o balancete das contas de Setembro, mais umas páginas do livro de entrevistas de Maria João Seixas "Conversas com Vista para...", mas o que me apetecia mesmo era saber ler as linhas na palma da tua mão.