Afectividades

(Gold Sam de Andy Warhol)

Préstimo

Um gato não serve realmente

para nada, vão quase seis séculos

desde o tempo das caravelas

onde embarcou com os marítimos para

extermínio dos roedores que

infestavam o porão das naus. Agora

só o dorso oferece às carícias

ou ao regaço o peso

do pequeno corpo, ronronando

a grata beleza de existir.

Inês Lourenço

Teoria da Imunidade

Felício & Cabral, Porto, Dezembro 1996

(Nota: No último dia de Novembro, a propósito de felinos e para lembrar o mês de nascimento de I. L., ofereço este poema a todos os que fizerem o favor de o ler. Este é um de alguns poemas que escreveu sobre estes adoráveis animais, tendo-o dedicado a Eugénio de Andrade. Escolho-o, porque o livro que o guarda e ao qual faço referência acima, me tocou particularmente.

(Um problema técnico do bloguer impediram-me de fazer as margens correctas nesta postagem. Desde já, as minhas desculpas)

Curiosidades

(One Blue Pusssy de Andy Warhol)



Requiem por um bicho


Está tudo muito certo mas a gata
que outro mundo trará a gata que morreu?


Ruy Belo
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Bensafrim


A manhã dá aos gatos
sapatinhos
de orvalho


Hans Jurgen Heise
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Coral


Ia e vinha
E a cada coisa perguntava
Que nome tinha


Sophia de Mello Breyner Andresen
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O gato


Na minha casa desejo ter
Uma mulher que imponha a sua razão
Um gato passeando por entre os livros
E porque sem eles não posso viver
Amigos seja qual for a estação


Guillaume Appolinaire
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Assinar a Pele (antologia de poesia contemporânea sobre gatos)
Assírio & Alvim, 2001

Sabedorias

(Pink Sam de Andy Warhol)

Eu e Pangur Bán, o meu gato,

temos um tarefa semelhante:

Caçar ratos é a sua delícia.

Caçar palavras a minha.

Em vez do elogio dos homens,

Sento-me com o livro e a pena;

Pangur, entregue às suas habilidades,

Não me leva a mal.

É uma alegria ver como

As nossas tarefas nos contentam

Quanto nos sentamos e

Entretemos os nosso espíritos.

Muitas vezes um rato extraviado

Mete-se no caminho do herói Pangur,

Também a teia dos meus pensamentos

Captam um significado profundo.

Ele fixa os olhos na parede,

Penetrantes e espertos;

Eu tento a minha pequena sabedoria

Na parede do conhecimento.

Oh, como o Pangur fica contente

Quando um rato sai do seu buraco!

Oh, que alegria eu sinto

Quando resolvo as dúvidas que amo!

Assim nos dedicamos às nossas tarefas,

Encontrando nas nossas artes

A nossa beatitude,

Eu tenho a minha e ele tem a sua.

Praticar todos os dias tornou

Pangur perfeito no seu ofício;

Eu obtendo sabedoria dia e noite,

Transformando a escuridão em luz.

Pangur Bán

Monge Irlandês (Séc. VIII)

(Novas histórias de gatos)

Asa Editores

Intimidades

La ménagerie intime


Não é tarefa fácil conquistar a amizade de uma gato, deste filósofo ponderado e tranquilo, uma criatura de hábitos, um amante da decência e da ordem. Não concede o seu afecto de forma leviana e, ainda que possa consentir em ser nosso companheiro, nunca é nosso escravo. Mesmo quando está na mais afectuosa das disposições, preserva sempre a sua liberdade e recusa uma obediência servil. Mas, uma vez que se tenha conquistado a sua confiança, é um amigo para toda a vida. Partilha as nossas horas de trabalho, de solidão, de melancolia. Passa noites inteiras nos nossos joelhos a ronronar e a dormitar, satisfeito com o nosso silêncio e desprezando, pelo amor que nos tem, a companhia dos da sua espécie.

Théophile Gautier

( Novas histórias de gatos)

Asa Editores

(Grenn Cat de Andy Warhol)

Antonio Gamoneda

Diante das vinhas abrasadas pelo Inverno, penso no medo e na luz (uma única substância dentro dos meus olhos), penso na chuva e nas distâncias atravessadas pela ira.



Antonio Gamoneda
(poeta espanhol, nascido em Oviedo em 1931, para pesquisar, ler e conhecer)

Livro do Frio
(tradução de José Bento)

Migrações

Na passada semana voaram pelo menos quatro blogues que visitava habitualmente.
Desejo às aves migratórias que regressem sem penas e, sobretudo, temperadas pelo
clima da surpresa e da originalidade.