05 setembro 2006

Na pele, todas as peles

O tempo parou quando chegaste.
Nas mãos trazias os três reis magos
esculpidas missangas, a terra prometida
longe do vómito das minas ou das aéreas
marionetas de chumbo. No teu cabelo,
a liberdade era uma crina mansa
e o teu rosto adocicava o azeviche.
Nada sabias de símbolos,
premeditados ardis, embustes. Nos olhos
apenas água emudecida pelo sol.
A tua mesquita esse vazio de sombra,
o teu sabat o pão que não possuías.
Tinhas perdido o fio de todos os começos,
na realidade insana, escravidão de tribos,
e agora que chegaste, inscrevendo na pele todas as peles
com que a humanidade reencontra a sua estrela,
nada mais me separará de ti.


(Setembro, 2006)