30 março 2006

"A Metafísica da Paisagem: Teixeira de Pascoaes"

A história da poesia está cheia de reconhecimentos tardios. Nem sequer é pois excepção que a Teixeira de Pascoaes tenha cabido a sorte de permanecer, durante quase toda a sua vida, ignorado da maioria dos seus contemporâneos, à excepção daqueles núcleos que, em sucessivas gerações, sempre souberam reconhecer nele um dos maiores poetas portugueses. Já ele era velhinho quando a fama acabou por lhe bafejar o nome. Mas a sua poesia quase não contribuiu para tal. Deveu-a sobretudo ao seu livro em prosa S. Paulo; as suas obras poéticas continuaram a ter tão pouca procura como antes, a sua poesia tão pouco eco como até aí; permaneceu um poeta "para os raros apenas", como diria o seu muito famoso contemporâneo Eugénio de Castro.
A verdade é porém que nenhum reconhecimento público poderá dar à sua poesia aquilo que ela, na sua totalidade, recusa a qualquer maioria; ele é, de facto, um poeta impopularizável a todos os títulos; o seu nome acabou por ser famoso - e talvez nem tanto... Mas a sua obra continuará desconhecida, devido àquilo mesmo que nela é essencial.

(Adolfo Casais Monteiro, A Metafísica da Paisagem: Teixeira de Pascoaes. Incluído em A Poesia Portuguesa Contemporânea, Sá da Costa, 1977)