10 março 2006

Campo Maior (Alentejo)

Nesta pequena vila alentejana no interior profundo do país, as portadas das casas servem de janelas abertas sobre o mundo. Na cal seca de prantos antigos, as vizinhas saem pela manhã sem se preocuparem em trancar o ferrolho ou bloquear a intimidade a olhos alheios. Esvoaçam no vento para ir ao mercado ou caminham displicentes nas ruelas exíguas. Tudo parece inquietantemente parado e, contudo, há uma vida por contar em cada uma dessas chitas riscadas na paisagem. Cada uma transporta um passado mais ou menos colorido na secura dos lábios. E todas clamam por o mar que à distância entorna, do outro lado, a sua azul e esverdeada tinta para adornar as portadas adormecidas pelo sol. São as ventanias da alma.